1-No dia em que um “pop star” esteve no Gonçalo
2-As festas de antigamente...
3-A menina que só se vestia de azul e branco
No dia em
que um “pop star” esteve no Gonçalo
Confesso,
que tenho dificuldade em dizer qual o artista de hoje em dia tinha a
popularidade do cantor que esteve no Gonçalo na década de 1960.Posso adiantar
que ele não veio fazer nenhum show, nosso povoado não comportava tamanho evento.
A título de comparação é difícil dizer, talvez artistas como Marilia Mendonça,
Luan Santana, Zeca Pagodinho, algo assim, alguém que estivesse no auge de sua
carreira e com reconhecimento nacional.Sobre o astro falo mais tarde. Deixa eu
contar como eram as festas em minha época.
As festas
de antigamente e a preparação das meninas
Naquele
tempo, não tinha a facilidade que se tem hoje para se arrumar para uma festa. Hoje
você tem uma infinidade de opções para escolher seu vestido, contamos também
com uma diversidade muito grande de modelos, ou mesmo comprar pela internet,
assim seu vestido pode vir de qualquer lugar do mundo. No meu tempo, não havia
vestidos prontos.Funcionava assim, as meninas iam até a bodega de Cazuza que
além de tecido vendia tudo que o lugar precisava como: fumo de rolo, carnes,feijão,
querosene etc.
A outra
opção era os mascates que vinham de longe trazendo tecidos nos lombos de seus
jumentos. Muitas de minhas amigas costuravam seu próprio vestido, mas a maioria
se valia de algumas costureiras do Gonçalo que faziam a diferença, eram nossas “estilistas”
e personalizava cada vestido de acordo com sua cliente.
A preparação para festa começava cedinho,
cuidávamos logo dos afazeres domésticos, adiantava tudo que tinha de fazer, era
um ajuste no vestido aqui ou ajuste ali, algumas se valiam dos bobs no cabelo,
outras usava uma espécie de tesouras com a ponta achatada que aquecida no
fogareiro alisava os cabelos (talvez, a percussora das chapinhas de hoje).À tarde
descia um monte de rapazes e moças para o rio para tomarmos banho. Àdireita da
ponte ficava o poço das mulheres, àesquerda o poço dos
homens, acredito que hoje em dia não haja mais necessidade dessa divisão
(risos).
Por falar
em tecidos preciso contar a história de uma loja conhecida de todos vocês.
Casa Feitosa uma renomada loja de Jacobina
Cabe aqui
uma menção honrosa a Casa Feitosa que até hoje tem comercio em Jacobina, a qual
faço parte dessa história.
Nessa época
Pedrinho Feitosa (fundador) tinha um armazém que vendia de tudo, como fumo de
rolo, querosene, alimentos, bebidas, etc., como todas as outras bodegas do comércio
local. Naquele tempo a feira do Gonçalo era muito grande, vinha gente de vários
povoados comprar ou vender suas mercadorias. A feira era destaque tendo em
vista que era praticamente a única das redondezas. O Caém tinha uma feira, mas
era meio elitizada e não tinha tudo que precisávamos. A outra opção era ir pra
Jacobina, mas a dificuldade era grande para ir toda semana para lá.
O Pau comia nas bodegas...
Muitos homens
reunidos em uma bodega com muita cachaça não davam outra, toda feira terminava
em brigas. Era socos, muros, pontapé, faca, foice, dava de tudo. Meu compadre
Pedrinho tinha uma dessas bodegas só que um pouco mais organizada, de um lado
ele despachavas as bebidas, do outro, sua esposa Safira vendia os demais
produtos. No entanto, não era diferente, volta e meia tinha briga. Desgostoso
com o andar de seu comercio, porque toda vez que tinha uma confusão era
obrigado a fechar o comercio e assim deixava de vender suas mercadorias, o
prejuízo era certo. Pedrinho andava descontente, aí resolvi lhe dá uma ideia:
compadre porque você não deixa de vender bebidas e começa a negociar com tecidos?
Ele gostou da ideia mas disse que não sabia nada sobre tecidos e que não sabia
fazer os decimais (medida muito usada na época para venda de Tecidos). Respondi
que iria ajuda-lo, passei a ensiná-lo, e assim foi feito. Ele viajou até
Juazeiro e Salvador e fez suas primeiras compras de tecidos, abandonou as
bebidas e começou seu pequeno comércio em tecidos.
Pouco tempo depois não precisou mais viajar
para comprar tecidos, os próprios vendedores vinham até o Gonçalo para
atendê-lo.
A praça iluminada e as Bandas Musicais
Na época (como
em qualquer lugar das redondezas)não tinha energia elétrica, mas a praça era iluminada
por postes que tinha um lampião cujo combustível era de pedra de carbureto.
“Aspas”
para o carbureto:
O carbureto
é um composto que não se encontra na natureza. Resulta da junção de cal e
carbono, levando a um forno de alta temperatura. Ele pega fogo
porque quando em contato com a água produz um gás inflamável que ao entrar
em contato com o oxigênio incendeia, e vira um tipo de candeeiro “
pré-histórico” iluminava bem, nos atendia.
A praça era
iluminada das 18 horas ás 22 ou 23 horas, a prefeitura de jacobina (o Gonçalo
era distrito de jacobina nessa época) mandava o carbureto por José Inocêncio
que repassava para Calumbi acender os postes.
As bandas
musicais eram uma atração à parte, tinha saxofone, trombone, sanfoneiro, etc. Tinha
um tal de Muritiba sanfoneiro que vinha de Cachoeira, era o sucesso do
momento. Tinha também Alexandre do
saxofone de Jacobina outro famoso da época.
O São Pedro
do Caém uma das maiores festas do gênero da Bahia.
“Aspas” para Junior de Feira
Sempre tive
uma dúvida a respeito dessa festa. Por
que sendo o Gonçalo um distrito do Caém, tinha a principal festa junina, o São
João, e a sede do município tinha o São Pedro, que em todos os lugares é uma
festa menor? Fiz essa pergunta a vários
amigos, incluindo ex-prefeito, e ninguém sabia ao certo, como começou essa
tradição.
Segue a
resposta da professora Belinha...
Tudo
começou com um morador muito conhecido no Caém chamado Pedro Matos que aniversariava
exatamente no São Pedro, e nessa data dava uma festa enorme. Em sua casa tinha um
grande salão. A festa era regada com comida e bebida à vontade.Todo ano vinha
gente de saúde, Gonçalo, Jacobina, toda região, aquilo virou uma espécie de
tradição por muitos anos.Vinha uma banda famosa da época era Giazz de Senhor do
Bomfim. Sua esposa Zumira sempre hospitaleira e receptiva com todos, mesmo com
aqueles que não eram convidados. Certa vez, sua esposa se converteu ao
espiritismo, e a festa passou a não ter mais música, bebida... a festa não era
mais animada como outrora, mas a semente estava lançada.
Acredito,
que essa tenha sido a causa de o Caém ter criado a tradição de festas de São
Pedro e não de São João.
A Caiçara
vs Capim Grosso(um erro que condenou a Caiçara e alavancou Capim
Grosso)
A Caiçara
era um povoado bem desenvolvido para região, possuía um comercio forte e festas
excelentes. Era um lugar muito conhecido das redondezas. Capim Grosso ao
contrário, praticamente não existia, se resumia a uma fazenda, algumas poucas
casas, uma igrejinha e só.
Na Caiçara
morava meu sogro Felix um grande comerciante do local. Ele tinha um armazém que
vendia de tudo que o lugar precisava, a população local não necessitava sair do
lugar para fazer suas compras básicas.
O grande
erro de Felix...
Nessa
época o governo federal começou o estudo do traçado da pista asfáltica (a atual
BR) que passaria dentro da Caiçara, um luxo na época onde praticamente todas as
estradas eram de terra. Qualquer cidadão em sã consciência iria aprovar com
louvor essa iniciativa do governo federal... exceto Felix, que quando soube do
projeto fez um abaixo assinado e convenceu a população local a assinar sob a
alegação de que o asfalto iria trazer o progresso para Caiçara o que era ruim para
o local, na visão dele.
Com a rejeição dos moradores, o asfalto foi
desviado da Caiçara em mais ou menos 6 km, passando justamente em frente da
fazenda Capim Grosso. A estrada asfaltada trouxe o progresso para o local que
se devolveu rapidamente, e em 1985 virou cidade, contando em 2023 com 33.344
mil habitantes, tornando a Caiçara um de seus distritos, com sua população 2023
estimada em apenas 307 moradores.
A menina
que só se vestia de azul e branco
Eu
tinha uma amiga de infância chamada Biluzinha, ela chamava a atenção de todos porque
só se vestia com roupas nas tonalidades azul e branco, não ariscava nem uma
fitinha no cabelo que não fosse dessas duas cores.
Tudo
começou quando ela tinha apenas 6 meses de vida e passou a ter crises convulsivas.Sua mãe temendo pelo pior
fez uma promessa a nossa mãe maior Nossa Senhora, que se as convulsões parassem
ela só vestiria azul e branco até os 15 anos de idade. O pedido foi aceito, ela
foi curada, não teve mais convulsões, a promessa tinha que ser cumprida, e
assim foi feito. Biluzinha foi ficando mocinha e vaidosa como toda adolescente
da época. Se preparava para as festas e desejava um vestido colorido, ou de
qualquer outra cor que não fosse azul e branco, igual as suas amigas da época,
mas ao encomendar um vestindo que ela tinha gostado e não fosse azul ou branco,
tinha que fazer a adaptação nessas cores ou usar só branco... o tecido branco
menos mal, mas o azul ela tomou verdadeiro horror a essa cor.
Mocinha,
cada dia se tornava mais difícil cumprir essa promessa feita pela mãe, tinha
loucura para vestir um vestindo vermelho, por exemplo.As adolescentes da época
usavam roupas coloridas, cores fortes, vibrantes, mas ela seguia firme e forte
em seu propósito... muitas vezes presenciei ela dizer: “ quando completar 15
anos vou vestir roupas de todas as cores, vou ser igual a vocês. Biluzinha
sonhava muito com essa data, bastava completar 15 anos e estava liberta do azul
e branco que tanto a atormentava.
Em fim os
15 anos
Chegou a data tão
esperada por ela e por todas as amigas que sofria junto com ela, mas o destino,
mais uma vez lhe pregava uma peça.Ao
completar 15 anos, sua mãe faleceu... e Biluzinha, abandonou o azul e branco e passou
a vestir preto... seu luto durou um ano.
Lembro bem que quando alguém, naquela época, perdia um
ente querido, era tradição usar preto, por um longo período.Quando meu bisavô
faleceu, minha mãe me fez usar preto por seis meses.
O Astro...
Valdick
Soriano era o nome da vez, cantor de enorme sucesso no Brasil. Ele se vestia sempre da mesma forma: terno,
chapéu e óculos escuros (uma novidade para a época) se inspirava em um herói
americano chamado Durango Kid, uma espécie de Robin Hood. Durango Kid também foi lembrado na música “cawboy
fora da lei” de Raul Seixas e na música “ eu vou botar meu bloco na rua” de
Sergio Sampaio.
Valdick sempre
que vinha a minha cidade Feira de Santana, eu e meu marido (Dunga) estávamos na
plateia, os ingressos do show de sexta feira se esgotava rapidamente e ele era
obrigado a fazer outro show no sábado, toda vez era isso. Em uma das vezes que
ele veio, Dunga esperou terminar o show e foi cumprimenta-lo, conversa vai, conversa vem ficaram amigos. Em uma dessas
vindas a Feira ele disse que iria fazer um show em Jacobina e nos convidou.
Dunga viu a oportunidade de levá-lo ao Gonçalo (para essa família tudo é motivo
para ir ao Gonçalo). Valdick tinha uma Kombi, Dunga um Jeep, assim Valdick
pediu a Dunga que trocasse os veículos porque o jeep era mais veloz, assim foi
feito
Ao chegar
ao Gonçalo, se encantou com o rio, que estava muito cheio, queria tomar um
banho, mas foi desaconselhado pelos moradores, rio cheio era perigoso para quem
não conhecia. Valdick teve uma ideia,
pediu a Dunga que amarasse uma corda em sua cintura que ele iria nadar e se cansasse
pedia a Dunga puxasse ele, mas uma vez os moradores conhecendo Dunga disse: não
vai não senão ele solta a corda. Ele desistiu de atravessar o rio nadando e
ficou se banhou na margem.
Bar do Sr. Wilson
Valdick
entrou no bar, começou uma partida de sinuca, mas falou pouco ou quase nada...
a notícia se espalhou rápido pelo Gonçalo e o bar começou a chegar gente,
alguém colocou um disco dele na vitrola, o silêncio foi quebrado quando alguém pediu“canta
pra gente Valdick” .... Ele apontou o taco de sinuca em direção a vitrola e
disse:
Já estou cantando...