“QUANDO UMA TRAGÉDIA SALVOU MINHA
TURMA”
...ouvindo Orlando Pessoa (abril de 2015).
Meu nome é Orlando Nunes Pessoa, também fui aluno
das escolas Paroquiais de Padre Alfredo(Serrolândia). Tive o privilégio de o
santo padre ter feito meu batizado, crisma e meu casamento. Outro privilégio
que tive na vida foi de ter sido aluno da professora Belinha. Nessa época
tínhamos aulas pela manhã e pela tarde. A professora Belinha era muito
cuidadosa com seus alunos, entretanto não alisava ninguém.
Certo dia, no horário do recreio, ela pegou em
minha mão e disse: vamos comigo em tua casa, e com carinho me ajudou a
atravessar a rua, na época minha casa era perto da escola e mesmo assim ela não
soltava minha mão. Como era amiga de minha família e muito amiga de minha irmã, sempre nos visitava em
casa. Ao terminar o recreio voltamos
para escola, ao se aproximar da sala de aula, um monte de meninas ( minhas
colegas ) foram ao nosso encontro e começaram a gritar: “ Professora os meninos
estavam em cima do telhado olhando a gente no banheiro”.
Nesse momento pensei: dessa vez os meninos estão
ferrados... Então a professa Belinha falou: todos os meninos vão pra sala e
fiquem de frente para parede de joelhos, estão de castigo. Em seguida chamou as
meninas e disse: vocês também todas na parede de joelhos, então as meninas
tentaram argumentar, professoras nós fomos “vítimas”... Mas vão também para não
ficarem de gracinha rindo dos meninos, respondeu a professora... Nesse momento
ela olhou pra mim e disse você também Orlando. Eu? Como eu? Eu estava com a
senhora lá em casa, lembra?! Você também Orlando para ninguém achar que estou
te protegendo, só porque sou amiga de sua família.
Quando toda a turma estava alinhada, em frente da
parede da sala, prestes a ajoelhar para cumprirmos nosso castigo... Uma
professora entrou na sala e falou com a professora Belinha, acabou de dar agora
na radio Tupi ( Rio de Janeiro), o presidente Getúlio Vargas acaba de se
suicidar. A carta testamento acabou de ser
transmitida. Com essa notícia trágica, imediatamente o castigo foi
suspenso. Depois, todos os alunos foram
levados para frente da escola onde hasteamos a bandeira do Brasil (meio mastro)
em sinal de luto. Todas as escolas fecharam por 8 dias, e na volta às aulas (
felizmente ) nosso castigo tinha sido esquecido...
Orlando Pessoa,
(Empresário do ramo de material de construção em
Feira de Santana)
QUANDO O PRESIDENTE DA REPÚBLICA APLAUDIU OS ALUNOS DE GONÇALO
...ouvindo professora Belinha (março de 2015).
Durante 13 anos, lecionei nas Escolas Paroquiais de Padre Alfredo nas
comunidades de Alagadiço ( Caatinga do Moura ), Serrolândia e Gonçalo. Durante esse
período fui testemunha de quanto ele sofria para custear 45
escolas sem subvenção do governo. Viajava( cerca de 40 léguas ) montado num burro, visitando as escolas,
celebrando missas, fazendo batizados, casamentos, medicando e curando os pobres
doentes, isso durava o mês inteiro.
Porém, o fato que mais me marcou,
foi quando em 1957, o então Presidente da República Juscelino Kubitschek de
Oliveira, em visita a Jacobina, foi homenageado pelo Padre Alfredo com um desfile de mais de 1.000 alunos das
suas escolas paroquiais. Os alunos usavam uma farda tipo marinheiros, tocavam tambores e cornetas, e carregavam as bandeiras do Brasil, de Jacobina e do
Vaticano.
O desfile
estava passando em frente à casa
do Deputado Francisco Rocha, de onde JK
assistia ao desfile. Quando a escola paroquial do Gonçalo, com todos os alunos
elegantemente vestidos e mostrando um sincronismo perfeito ao marchar, arrancou
aplausos do Presidente, que me parabenizando pelo desfile apertou minha mão...
Professora Belinha.