25 anos de
Sacerdócio
Em 1958 Padre Alfredo completava
25 anos de sacerdócio. Todas as paróquias sob a sua jurisdição tinha preparado
uma grande festa e celebrações por essa data histórica. Era festa em todos os
lugares como: Jacobina, Várzea Nova, Caatinga do Moura, Junco, Caiçara, Peixe,
etc. Queria presenteá-lo com algo novo que fosse diferente das festas
tradicionais das outras comunidades.
Naquele
Tempo...
Se tinha uma coisa que deixava o
santo padre furioso era uma moça da comunidade assistir a missa com uma blusa
sem mangas ou maquiada, um simples batom já era motivo de um olhar torto do padre.
Comungar então, nem pensar... Lembro de algumas vezes ele colocar pra fora da
Igreja as mulheres que não se vestiam adequadamente para a missa. Lembro-me
também de uma esposa de um político de uma cidade próxima que levou o filho
para ser batizado no Gonçalo e ele se recusou a batizar porque a mulher estava
com um vestido sem mangas. Como era pessoa influente no lugar até ameaça de
morte sofreu, contudo não realizou o batismo.
O
fato
Na época, e ainda hoje, os casais
que estavam “amigados” não podiam receber o sacramento da eucaristia, nem podiam
batizar seus afilhados. Eram casais que frequentavam as missas, participavam
das orações, mas eram impedidos de comungar. Sentia que isso deixava o santo
padre triste.
A
ideia
Pensei então em fazer um
casamento coletivo com 25 casais que viviam amigados, um casal para cada ano de
sacerdócio. Fui até a propriedade do Sr. Cazuza que me cedeu dois cavalos, um
para mim e outro para um amigo da família, um tipo fiel escudeiro chamado
Calumbi. Nossa rotina era visitar as
fazendas atrás desses casais. Depois de
convencê-los da ideia, com tudo acertado,
partimos para a próxima roça/fazenda. A ideia foi ganhando corpo ao
ponto de um casal ir indicando outros, e me diziam: professora, acolá tem
fulano e sicrano que também não são casados, e assim o número de casais crescia.
A
condição...
Em sua maioria os casais eram
formados por pessoas humildes, com poucos recursos, no entanto ouvi muitos
pedidos das “noivas” como: eu caso, mas só se ganhar um vestido de noiva.
Curioso é que muitas delas já viviam há muito tempo juntos, algumas já eram até
avós... Os “noivos” por sua vez, não ficavam atrás, e pediam ternos novos. Os
homens dessa época tinham uma relação interessante com ternos, tanto que, nas
eleições só votavam aqueles que fossem de terno, os que não tinham condição
financeira para comprar, os candidatos davam de “presente”.
Os
recursos...
Com essa nova condição para se
casarem comecei os pedidos com alguns fazendeiros/comerciantes que sempre me
ajudava nas obras sociais, fiz rifa, bingos, festas para arrecadar o dinheiro
restante. Com os recursos em mão, comprei os tecidos na venda dos Feitosa e de
Cazuza. As camisas de mangas compridas e brancas foram feitas por minha mãe
Miúda, os vestidos pelos alfaiates do lugar.
Tudo
pronto...
Levei os proclamas para o Padre
Alfredo para os trâmites legais... Eram mais de 60 casais. O santo padre se
emocionou com tantos casais para que celebrasse o casamento. No dia, na
celebração revelou que de todas as homenagens/festas que recebeu pelos seus 25
anos de sacerdócio aquele presente dado pelo Gonçalo foi o que mais gostou e o
mais importante de todos...
O efeito
colateral...(risos)
Pouco tempo depois da celebração
encontrava os maridos que vinham me fazer queixas... Professora morava com essa
mulher a mais de 15 anos sem brigar, foi só assinar os papeis ela se
transformou... Só reclamam o dia inteiro, não quer que faça mais nada, fica
reclamando no meu pé de ouvido o dia todo... É briga quase todo dia...
Hoje
passadas várias décadas desse evento, quando vejo essa foto ainda me emociono.
Via a felicidade no olho de cada noiva que um dia sonhou em se casar assim. A
felicidade deles era a minha recompensa para continuar inventando coisas no
Gonçalo. É claro que depois desse houve outros casamentos coletivos, mas esse teve
um motivo especial e o primeiro a gente
nunca esquece...