Praça Argileu de Oliveira Souza

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É um prazer enorme receber visitantes em meu blog!!! Sintam-se em casa, mas não façam bagunça!!!!! RSRSRSRSRSR

Neste blog vocês encontrarão informações pessoais de seu idealizador assim como postagens interessantes sobre o Gonçalo... Apertem os cintos e boa viagem!!!!!!

POPULAÇÃO DE GONÇALO: 1312 Habitantes (Fonte: Censo 2010)

22 de jul. de 2019

O PRIMEIRO CASAMENTO COLETIVO DE GONÇALO... PROFESSORA BELINHA (Por Júnior de Feira)




25 anos de Sacerdócio
Em 1958 Padre Alfredo completava 25 anos de sacerdócio. Todas as paróquias sob a sua jurisdição tinha preparado uma grande festa e celebrações por essa data histórica. Era festa em todos os lugares como: Jacobina, Várzea Nova, Caatinga do Moura, Junco, Caiçara, Peixe, etc. Queria presenteá-lo com algo novo que fosse diferente das festas tradicionais das outras comunidades.

Naquele Tempo...
Se tinha uma coisa que deixava o santo padre furioso era uma moça da comunidade assistir a missa com uma blusa sem mangas ou maquiada, um simples batom já era motivo de um olhar torto do padre. Comungar então, nem pensar... Lembro de algumas vezes ele colocar pra fora da Igreja as mulheres que não se vestiam adequadamente para a missa. Lembro-me também de uma esposa de um político de uma cidade próxima que levou o filho para ser batizado no Gonçalo e ele se recusou a batizar porque a mulher estava com um vestido sem mangas. Como era pessoa influente no lugar até ameaça de morte sofreu, contudo não realizou o batismo.

O fato
Na época, e ainda hoje, os casais que estavam “amigados” não podiam receber o sacramento da eucaristia, nem podiam batizar seus afilhados. Eram casais que frequentavam as missas, participavam das orações, mas eram impedidos de comungar. Sentia que isso deixava o santo padre triste.

A ideia
Pensei então em fazer um casamento coletivo com 25 casais que viviam amigados, um casal para cada ano de sacerdócio. Fui até a propriedade do Sr. Cazuza que me cedeu dois cavalos, um para mim e outro para um amigo da família, um tipo fiel escudeiro chamado Calumbi.  Nossa rotina era visitar as fazendas atrás desses casais.  Depois de convencê-los da ideia, com tudo acertado,  partimos para a próxima roça/fazenda. A ideia foi ganhando corpo ao ponto de um casal ir indicando outros, e me diziam: professora, acolá tem fulano e sicrano que também não são casados, e assim o número de casais crescia.


A condição...
Em sua maioria os casais eram formados por pessoas humildes, com poucos recursos, no entanto ouvi muitos pedidos das “noivas” como: eu caso, mas só se ganhar um vestido de noiva. Curioso é que muitas delas já viviam há muito tempo juntos, algumas já eram até avós... Os “noivos” por sua vez, não ficavam atrás, e pediam ternos novos. Os homens dessa época tinham uma relação interessante com ternos, tanto que, nas eleições só votavam aqueles que fossem de terno, os que não tinham condição financeira para comprar, os candidatos davam de “presente”.

Os recursos...
Com essa nova condição para se casarem comecei os pedidos com alguns fazendeiros/comerciantes que sempre me ajudava nas obras sociais, fiz rifa, bingos, festas para arrecadar o dinheiro restante. Com os recursos em mão, comprei os tecidos na venda dos Feitosa e de Cazuza. As camisas de mangas compridas e brancas foram feitas por minha mãe Miúda, os vestidos pelos alfaiates do lugar.

Tudo pronto...
Levei os proclamas para o Padre Alfredo para os trâmites legais... Eram mais de 60 casais. O santo padre se emocionou com tantos casais para que celebrasse o casamento. No dia, na celebração revelou que de todas as homenagens/festas que recebeu pelos seus 25 anos de sacerdócio aquele presente dado pelo Gonçalo foi o que mais gostou e o mais importante de todos...

O efeito colateral...(risos)
Pouco tempo depois da celebração encontrava os maridos que vinham me fazer queixas... Professora morava com essa mulher a mais de 15 anos sem brigar, foi só assinar os papeis ela se transformou... Só reclamam o dia inteiro, não quer que faça mais nada, fica reclamando no meu pé de ouvido o dia todo... É briga quase todo dia...

Hoje passadas várias décadas desse evento, quando vejo essa foto ainda me emociono. Via a felicidade no olho de cada noiva que um dia sonhou em se casar assim. A felicidade deles era a minha recompensa para continuar inventando coisas no Gonçalo. É claro que depois desse houve outros casamentos coletivos, mas esse teve um  motivo especial e o primeiro a gente nunca esquece...